Recentemente, o site da ABTG divulgou um levantamento realizado pela ANconsulting, empresa de consultoria especializada em negócios gráficos, sobretudo os que envolvem impressão digital. O levantamento afirma que gráficas de diferentes portes que investiram na tecnologia digital crescerão cerca de 22% em 2011 em relação ao ano passado.
Tais dados confirmam algo que já é sabido pelo mercado: a impressão digital está se tornando uma das principais forças de atração de novos investimentos. O crescimento da impressão digital como negócio abre, por sua vez, uma nova necessidade dentro das gráficas: investir em soluções de acabamento digital para esse tipo de aplicação. Em princípio, é muito comum o empresário gráfico, sobretudo o de gráficas pequenas, não atentar para essa necessidade e usar seus sistemas de acabamento tradicionais para finalizar (vincar, cortar, dobrar, colar etc.) seus impressos digitais. Isso, na maioria das vezes, incorre num erro. Pois os impressos digitais, da mesma maneira que se diferenciam no processo de impressão, por permitir baixas tiragens ou tiragens unitárias com personalização one to one, também precisam de aplicações dedicadas de acabamento para que sejam finalizados com qualidade. Ou seja, não adianta investir em equipamentos de qualidade para impressão digital se não há, no final do processo, sistemas que assegurem um acabamento com igual qualidade.
Essa afirmação pode ser ilustrada com um exemplo simples. Na maioria dos casos, as impressoras atualmente disponíveis no mercado usam tecnologia de toner, principalmente quando falamos de impressoras de ponta. Só que, como é sabido, o toner, ao contrário da tinta à base de água, não penetra no papel — ele fica concentrado na superfície do substrato. Agora, imagine que, na dobra ou corte, a folha sofra um tipo de estresse (pressão) que rasura ou arranca esse toner facilmente. O resultado são os filetes brancos provocados em áreas onde o toner foi, literalmente, removido pelo processo de acabamento — faca ou pressão para dobra.
Quando falamos em equipamentos especialmente criados para acabamento digital, estamos falando, portanto, de tecnologias que respeitam as características desse tipo de impresso. Alguns sistemas de acabamento, como os de corte, já estão mais adaptados aos processos envolvendo impressão digital. Neles, as facas já vêm preparadas para cortar impressos em toner. Mas em vários outros itens que envolvem o acabamento de um produto gráfico isso não ocorre. Um exemplo rápido são os sistemas de vinco, que permitem que as folhas recebam vinco sem pressão usando sistema inteligente (mas simples) macho/fêmea, no qual o vinco é feito sem rasura alguma.
Acabamentos dedicados
Outros paralelos que podemos traçar, em termos de tecnologia, são as vantagens de se trabalhar com sistemas de acabamentos adaptados ao digital em processos de binder, dobra e guilhotina, devido ao tempo mais curto de acerto da máquina. Como se tratam de impressos em tiragens baixíssimas, muitas vezes unitárias, é inconcebível que haja desperdício de substrato. Linhas desenhadas para impressos digitais trazem um setup menor, com o qual a troca de funções se torna mais rápida, já que o giro entre diferentes trabalhos é muito maior, devido às baixas tiragens (equipamentos para acabamento digital são pensados para equilibrar tempo e produtividade). Não é viável que os processos de vincar, cortar ou dobrar cinco ou 10 catálogos demandem um tempo de acerto igual ao encontrado em um equipamento similar para saída offset. Por fim, deve-se considerar o design dessas máquinas. Normalmente, as gráficas digitais são menores e o layout desses equipamentos respeita isso. Trata-se de maquinário compacto que ocupa pouco espaço. Além disso, a gráfica digital normalmente trabalha com “balcão”, é voltada para atendimento de rua, e isso se reflete em toda a estrutura de seu parque de produção, que deve permitir agilidade em pouco espaço.
É possível perceber que, em um plano de investimento ideal, não se deve olhar apenas para o parque de impressão, e sim para a cadeia como um todo. Esse tipo de visão já é comum nas gráficas tradicionais e deve migrar também para as gráficas digitais. Afinal, a exigência de qualidade por parte de clientes e do mercado, em geral, não muda. E, à medida que os impressos digitais asseguram uma diversificação na oferta de trabalhos gráficos, o empresário deve estar atento às formas de produzir esses impressos com qualidade máxima.
Portanto, se de um lado fala-se muito sobre abrir aplicações para incentivar o crescimento das vendas no mercado de impressão digital e no número de páginas impressas com esses sistemas, os compradores desse tipo de tecnologia (ou seja, gráficos) devem atentar para uma terceira e adicional questão: se vou imprimir, preciso dar a esse impresso um acabamento condizente com a qualidade que meu cliente espera.
Assim, temos, ao final, não somente a venda de produtos para se imprimir digitalmente. Temos a venda de uma solução total ao cliente. Esse, sim, é um novo mercado: o que permite a impressão em baixas tiragens e tiragens personalizadas e, também, que possibilita a produção de um impresso belo, bem acabado, e um fluxo de trabalho todo adaptado e pensado para a impressão digital.
Texto originalmente publicado no site Tecnologia Gráfica - Revista Técnica do Setor Gráfico Brasileiro, em 17 de maio de 2011.